segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Cão


Cão passageiro, cão estrito
Cão rasteiro cor de luva amarela,
Apara lápis, fraldiqueiro,
Cão liquefeito, cão estafado
Cão de gravata pendente,
Cão de orelhas engomadas,

de remexido rabo ausente,
Cão ululante, cão coruscante,
Cão magro, tétrico, maldito,

a desfazer-se num ganido,
a refazer-se num latido,
cão disparado: cão aqui,

cão além, e sempre cão.

Cão marrado, preso a um fio de cheiro,

cão a esburgar o osso

essencial do dia a dia,

cão estouvado de alegria,

cão formal de poesia,
cão-soneto de ão-ão bem martelado,
cão moido de pancada
e condoído do dono,

cão: esfera do sono,

cão de pura invenção,
cão pré fabricado,
cão espelho, cão cinzeiro, cão botija,
cão de olhos que afligem,
cão problema...
Sai depressa, ó cão, deste poema!

Alexandre O'Neill

2 comentários:

Raquel Sabino Pereira disse...

Vão ver os bolos da Sara e o Oscar!!!

caniche vagabundo disse...

Já vimos!
Só não percebo porque é que se havia festa, nós não fomos convidados! Tivemos que ficar no carro à espera que eles chegassem... e eles, nem uma fatia de bolo trouxeram.

Os meus donos já me prometeram que, no dia dos meus anos, fazem uma festa cá em casa e deixam-me convidar os meus amigos todos! Até o Óscar.